
Atravessar rios pode ser um dos desafios mais perigosos durante caminhadas em trilhas distantes.
Nas trilhas do Brasil e de outros países, os cursos d’água aparecem frequentemente no caminho dos aventureiros. Às vezes, você precisa cruzar pequenos riachos, mas em outras ocasiões, pode encontrar rios mais largos e com correntezas fortes.
Esta habilidade não é apenas uma questão de conforto, mas de segurança. De acordo com dados de 2023, acidentes em travessias de rios representam cerca de 15% dos resgates em áreas naturais remotas. Por isso, aprender como fazer essas travessias de forma segura é essencial para qualquer pessoa que goste de trilhas.
Neste artigo, vamos conversar sobre diferentes técnicas para atravessar rios com segurança. Você vai descobrir como avaliar os riscos, escolher o melhor local para a travessia e usar equipamentos que podem ajudar nessa tarefa. Além disso, vamos falar sobre como se preparar antes mesmo de sair de casa.
Avaliando o rio antes da travessia
Antes de colocar os pés na água, é muito importante observar bem o rio. Esta etapa pode levar alguns minutos, mas pode evitar acidentes graves.
O que observar na água
Primeiro, olhe para a velocidade da água. Um jeito simples de fazer isso é jogar um galho pequeno no rio e ver com que rapidez ele se move. Se o galho estiver se movendo muito rápido, a correnteza pode ser forte demais para uma travessia segura.
A cor da água também diz muito. Água clara permite ver o fundo e identificar possíveis obstáculos. Já água barrenta ou escura esconde o que está embaixo, tornando a travessia mais arriscada.
Observe também a profundidade. Em alguns pontos, o rio pode ser raso o suficiente para você passar caminhando, enquanto em outros pode ser fundo demais. Uma dica é usar seu bastão de caminhada para medir a profundidade antes de entrar.
Por fim, fique atento à temperatura. Água muito fria, abaixo de 10ºC, pode causar choque térmico e dificultar seus movimentos durante a travessia.
Escolhendo o melhor local
Nem todo ponto do rio é adequado para travessia. Por isso, vale a pena caminhar um pouco pela margem e procurar:
- Áreas mais largas e rasas, onde a água costuma correr mais devagar
- Trechos com pedras grandes que possam servir como pontos de apoio
- Locais com margens planas dos dois lados, que facilitam a entrada e saída da água
- Pontos onde não há sinais de redemoinhos ou correntezas fortes
Evite atravessar em curvas do rio, pois a água costuma ser mais profunda e rápida nesses pontos. Além disso, fique longe de áreas com troncos ou galhos submersos, que podem prender seus pés.
Técnicas básicas de travessia a pé

Depois de escolher o melhor local, é hora de aprender as técnicas para atravessar o rio caminhando.
Travessia individual com bastão
Uma das técnicas mais simples e eficazes é usar um bastão de caminhada como apoio. Aqui está como fazer:
- Segure o bastão firmemente com as duas mãos na sua frente, com a ponta apoiada no fundo do rio
- Posicione o bastão ligeiramente a montante (contra a correnteza)
- Dê passos laterais, mantendo sempre dois pontos de apoio (seus pés ou o bastão)
- Mantenha seu corpo virado para a correnteza, nunca de costas para ela
Esta técnica funciona bem em rios com até 50 cm de profundidade e correnteza moderada. O bastão serve como um terceiro ponto de apoio, aumentando sua estabilidade.
Método tripé
Para correntezas um pouco mais fortes, o método tripé oferece mais segurança:
- Posicione duas pernas bem abertas e o bastão formando um tripé
- Mova apenas um ponto de apoio por vez, mantendo os outros dois firmemente posicionados
- Teste cada novo passo antes de transferir seu peso, certificando-se de que o pé está bem apoiado
Este método é mais lento, mas muito mais seguro. Lembre-se: quando se trata de atravessar rios, pressa é inimiga da segurança.
Técnica de grupo: formação em linha
Quando você está em grupo, podem surgir técnicas mais avançadas que aumentam a segurança de todos. A formação em linha é uma delas:
- A pessoa mais forte ou experiente fica a montante (de onde vem a água)
- Todos ficam lado a lado, de frente para a correnteza
- Cada pessoa segura a cintura ou mochila da pessoa ao lado
- O grupo se move junto, como uma unidade, dando passos laterais
Esta formação cria uma barreira humana contra a correnteza. A pessoa que está a montante quebra a força da água para os outros, enquanto todos se apoiam mutuamente.
Equipamentos que ajudam nas travessias
Os equipamentos certos podem fazer grande diferença na segurança durante a travessia de rios. Vamos conhecer alguns itens que podem ajudar:
Calçados adequados

Nunca atravesse rios descalço. Pedras escorregadias e objetos cortantes no leito do rio podem causar ferimentos graves. Os melhores calçados para travessias são:
- Sandálias fechadas de trekking com boa aderência
- Tênis específicos para atividades aquáticas
- Em último caso, suas próprias botas de caminhada (que depois precisarão secar)
Sapatos com boa aderência reduzem o risco de escorregões durante a travessia.
Bastões de caminhada
Como já mencionamos, bastões são muito úteis nas travessias. Prefira bastões de alumínio ou fibra de carbono, que são leves e resistentes. Um único bastão robusto já ajuda muito, mas dois bastões oferecem ainda mais estabilidade.
Cintos de segurança e cordas
Para travessias mais desafiadoras, equipamentos de segurança como cordas podem ser necessários:
- Cordas de 15 m a 30 m são suficientes para a maioria das situações
- Cintos de segurança específicos para travessia de rios distribuem a força da água
- Mosquetões e carabiners (termo em inglês para conectores) também são úteis em técnicas avançadas
Esses equipamentos são especialmente importantes em expedições a áreas muito remotas, onde um acidente pode ter consequências graves devido à distância de socorro.
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Técnicas Avançadas para Travessias em Rios Mais Desafiadores
Em determinadas situações, especialmente quando se lida com rios largos, profundos ou de correnteza intensa, são necessárias técnicas mais avançadas para garantir a segurança durante a travessia. Nesse contexto, uma das estratégias mais eficazes é o uso de corda fixa. Para isso, uma pessoa mais experiente atravessa primeiro com cautela e segurança.
Assim que alcança a outra margem, ela fixa uma corda resistente entre os dois lados do rio. A partir daí, os demais membros do grupo utilizam essa corda como apoio durante a travessia, garantindo mais estabilidade. No entanto, é importante que a corda não esteja totalmente esticada — o ideal é manter uma leve curvatura, pois assim a pressão da água não a romperá.
Além dessa técnica, outra abordagem útil em ambientes de águas profundas envolve a travessia a nado. Nesses casos, é fundamental retirar a mochila e armazenar os pertences em sacos impermeáveis. Em seguida, a mochila pode ser amarrada a uma corda flutuante ou a uma boia improvisada, permitindo que flutue enquanto o praticante nada.
Durante a travessia, deve-se nadar em diagonal, aproveitando a força da correnteza para auxiliar no deslocamento. Apesar disso, essa técnica só é recomendada para pessoas com boa habilidade de natação e, principalmente, em condições onde a correnteza não seja excessivamente forte.
Como se proteger contra a hipotermia
A água fria é um perigo real nas travessias. Em 2024, um estudo mostrou que a exposição a águas com temperatura abaixo de 15ºC por mais de 10 minutos pode causar hipotermia mesmo em pessoas saudáveis.
Aqui estão algumas dicas para se proteger:
- Tenha sempre roupas secas separadas em sacos impermeáveis
- Troque de roupa imediatamente após a travessia
- Em climas frios, considere levar uma manta térmica na mochila
- Caminhe vigorosamente após a travessia para gerar calor corporal
Se você notar tremores incontroláveis, confusão mental ou fala arrastada em você ou em algum companheiro após uma travessia, trate como uma emergência médica. Estes são sinais de hipotermia.
Planejamento e Prevenção: Antes de Sair de Casa
A segurança na travessia de rios começa muito antes de você chegar à beira da água. Nesse sentido, um bom planejamento é essencial e pode evitar uma série de imprevistos ao longo do caminho. Antes de mais nada, é importante pesquisar com atenção o destino escolhido.
Estudar mapas da região e buscar informações sobre pontes ou passarelas existentes ao longo da trilha pode poupar você de riscos desnecessários. Além disso, verificar as épocas de cheia dos rios e ler relatos de outros caminhantes ajuda a compreender melhor as condições locais. Em áreas protegidas, como o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros ou o Parque Nacional do Itatiaia, os guias locais costumam ter informações atualizadas que podem ser extremamente úteis.
Outro ponto essencial do planejamento é acompanhar a previsão do tempo. Chuvas fortes têm o poder de transformar riachos calmos em rios perigosos em questão de poucas horas. Por isso, consulte a previsão climática para os dias anteriores à sua trilha e fique atento a qualquer alerta de tempestade. Se necessário, adie a atividade caso haja previsão de chuvas intensas. Vale lembrar que, mesmo que não esteja chovendo no local da trilha, chuvas em regiões mais elevadas podem causar enchentes repentinas em áreas mais baixas — uma armadilha comum para quem não se informa adequadamente.
Por fim, é fundamental montar um kit de travessia adequado e acessível. Ter os itens certos à mão pode fazer toda a diferença em situações inesperadas. Recomenda-se incluir sacos impermeáveis de diferentes tamanhos, cordas leves e resistentes, bastões de caminhada, calçados próprios para água e uma muda de roupa seca embalada à prova d’água. Inclusive, certifique-se de que esse kit esteja sempre em um local de fácil acesso na mochila — nunca no fundo, onde seria difícil alcançá-lo rapidamente em uma emergência.
Quando não atravessar: reconhecendo situações perigosas
Às vezes, a decisão mais sábia é não atravessar. Aqui estão sinais de que talvez seja melhor mudar de planos:
- Água acima da altura do joelho com correnteza forte
- Rios com água barrenta ou cheia de detritos
- Trovões ou chuvas fortes nas proximidades
- Início da noite se aproximando
- Você está sozinho e o rio parece desafiador
Não se esqueça que uma trilha pode ser feita em outro dia, mas um acidente em um rio pode ter consequências permanentes. Como dizem os montanhistas experientes: “O cume estará lá em outro dia” – o mesmo vale para o outro lado do rio.
segurança primeiro, sempre
Atravessar rios em trilhas remotas é uma habilidade que combina conhecimento técnico, equipamentos adequados e, principalmente, bom senso. Com as técnicas que conversamos aqui, você estará mais preparado para enfrentar este desafio com segurança.
Lembre-se sempre que cada rio é único e cada travessia exige uma avaliação cuidadosa. As condições podem mudar rapidamente, e o que era seguro pela manhã pode se tornar perigoso à tarde.
E você, já teve alguma experiência desafiadora atravessando rios durante trilhas? Compartilhe este artigo com seus amigos que também gostam de aventuras na natureza e conte nos comentários suas experiências com travessias de rios. Suas dicas podem ajudar outros aventureiros a se manterem seguros!